Macro com lente invertida

Essa é uma explicação prática de macrofografia usando lente invertida, baseada em experiência própria em vez de detalhes técnicos. Várias vezes me perguntam que lente macro eu usei em alguma foto, e a resposta que eu não tenho nenhuma macro sempre surpreende. Macro consegue ser um tipo bem barato de fotografia, pode ser feita facilmente sem gastar muito em equipamento específico pra isso – pra referência, eu consegui achar minha principal lente que eu uso pra inverter (Soligor 28-35) por menos de R$50, isso é mais barato do que um bom filtro close-up ou conjunto confiável de tubos de extensão.

Desde sempre eu uso desses métodos alternativos pra conseguir ampliação, não que eu tenha alguma coisa contra próprias lentes macro, simplesmente nunca tive uma e minha prioridade de investir em equipamento fotográfico fica em outras áreas, como telephoto,  e de qualquer forma a ampliação nativa de lentes macro costuma ser apenas 1:1 e nunca foi o suficiente pra me chamar a atenção, já que mesmo antes de possuir uma DSLR eu já era acostumado a ampliações bem maiores usando compactas e filtros.

Mosca predadora (Asilidae) com uma presa
ISO1600 | 1/200 | f/11 @ 28mm invertida

Hoje, com camera DSLR meu método preferido de conseguir grande ampliação em macro é usar uma lente wide invertida, pra isso só é necessário um adaptador que é um anel inversor, um lado dele tem rosca que funciona pra encaixar na parte frontal da lente como se fosse um filtro, e o outro lado tem o mount pra camera como se fosse a parte traseira da lente. Adaptadores assim não tem contatos elétricos, são anéis de metal de construção simples e por isso custam menos do que R$10. Sem um inversor desses, ainda é possível segurar a lente de trás pra frente na camera, no mínimo como experiência pra ver o quanto de ampliação você consegue com a inversão de alguma lente.

Também existem anéis de inversão com a rosca de filtro dos dois lados, feitos com a intenção de inverter uma lente de frente pra outra, em vez de direto no corpo da camera. Invertendo com uma lente intermediária dessa forma, a da frente vai funcionar similar a um filtro close-up e gerar bastante vinheta se a intermediária não tiver uma distância focal longa.

A ampliação que você consegue com a lente invertida é relacionada diretamente com a distância focal da lente escolhida, quanto mais wide, maior a ampliação (invertida, uma 28mm vai mostrar objetos maiores do que uma 50mm). A escolha mais popular na distância focal de lentes invertidas parece ser 50mm, as vezes com tubos de extensão, mas minha preferência pessoal é ir direto mais wide e não precisar de tubos exceto pra ampliações muito maiores. Outra variável atrelada à distância focal é a distância que você consegue fica do objeto, quanto mais wide mais perto é o ponto de foco, e provavelmente a vontade de mais distância é o motivo da 50mm ser a opção mais famosa.

A tabela mostra uma comparação que eu fiz com quatro combinações em uma 28-35 e uma 50mm 1.8, lembrando que não são as únicas distâncias focais utilizaveis, apenas minhas escolhas (e régua em centimetros).

28mm é o que eu uso na maior parte do tempo, e tem praticamente a mesma ampliação que uma 50mm invertida num conjunto de tubos, e o dobro de ampliação de uma lente macro comum. Nessa comparação também deve-se considerar que usando tubos de extensão você perde luz e precisa compensar na exposição, e a 50mm tendo mais distância focal também induz a mais tremedeira na foto do que 28mm – como eu fotografo sem tripé e geralmente segurando a camera com uma mão só (e o flash na oura), a lentes mais wide ganham mais um ponto positivo comigo nesses aspectos.

Como é de se esperar usando um adaptador inversor, a lente fica sem comunicação eletrônica com a camera, por isso na escolha de uma lente pra inverter, também se leva em conta que as antigas são vantagem por oferecerem controle de abertura direto no corpo da lente em vez de serem controladas apenas pela camera.

Retrato de aranha Corinnidae
ISO400 | 1/200 | f/11 @ 28mm invertida

Podem existir contras, com uma lente invertida não existe autofoco, o que não deve ser nenhum problema em macro, mesmo se usando uma lente própria pra isso o ideal ainda é focar manualmente em 1:1. O pouco espaço entre a lente e o objeto fotografado pode ser um problema pra quem quer usar luz natural, já com flash eu considero uma vantagem, quanto mais perto, mais fácil é dinfudir a iluminação. Essa distância curta de foco também é uma preocupação geral das pessoas sobre assustar insetos, mas nunca foi um problema pra mim, meu ideal é entre 5 e 8cm de distância da lente até o assunto.

O problema de maior peso que eu encontro com lente invertida é ter o viewfinder escurecido pela lente ficar permanentemente com a abertura fechada. Eu tiro a maior parte das fotos a noite, a princípio pode parecer que isso dificulta ainda mais conseguir enxergar pelo viewfinder, mas na verdade é vantagem contra o problema da falta de luz – primeiro pelo olho estar mais acostumado com a escuridão do que o contraste de sair de um ambiente iluminado diretamente pro viewfinder escuro, e o mais importante, a noite eu tenho sempre uma lantena de cabeça com luz bem fraca, que é sempre facilmente ajustada pra baixo na iluminação do assunto, com o olho no viewfinder. De forma geral eu acho mais dificil de usar o conjunto durante o dia do que a noite.

Então por que não só usar filtros close-up ou tubos de extensão como a maioria? Eu uso também, mas cada um pra situações específicas, geralmente é uma escolha baseada na ampliação necessária e o tanto de equipamento que eu quero levar comigo. Lente invertida também é a opção mais barata do que as outras duas, uma lente antiga + adaptador é um conjunto mais barato do que um bom close-up ou tubos de extensão com contatos elétricos.

Termino o post com uma galeria de exemplos no meu flickr, tiradas com lente invertida: https://www.flickr.com/search/?q=reverse&w=95419048%40N00&s=int